terça-feira, 2 de dezembro de 2008





JÓ: Paradigma da Espiritualidade Cristã - trabalho do seminário

Fiz um trabalho sobre um texto mês passado, gostaria de compartilhar o que escrevi.

No texto o autor trabalha os aspectos relacionados ao que nos motiva a manutenção de um relacionamento com Deus. Para o autor, no livro de Jó, Satanás tem um motivo muito maior do que constatar a falta de integridade e a infidelidade de Jó. Segundo ele, Satanás pretende desarticular as reais motivações de Jó em seu relacionamento com Deus. Para comprovar isto, o Diabo estabelece uma aposta com Deus. Se Deus retirasse tudo o que Jó possuía, desde a sua riqueza até sua saúde e família, certamente o amaldiçoaria. Era preciso provar que Jó estava servindo ao Senhor apenas pelas motivações da riqueza, da família e da saúde e não pelo que Deus realmente era. Ele o estava servindo pelo que o Criador podia oferecer e, se isso fosse provado, certamente, como fora apontado como o homem modelo de Deus no mundo, não haveria na terra quem servisse a Deus por aquilo que ele era.

O Senhor permite que tudo seja retirado de Jó, desde sua riqueza até a sua família. Jó vê-se em um turbilhão de problemas, algo inimaginável acabara de suceder. Um homem temente a Deus estava sofrendo. Motivo? Não existia, ele não sabia do desafio proposto por Satanás, portanto, não havia uma razão lógica para que Deus permitisse tamanho sofrimento. Para que a dor então? É no centro do drama vivido por Jó que percebemos o real significado da espiritualidade. Jó depara-se com algo que nunca antes havia experimentado. O sofrimento gerou um esvaziamento na vida do homem sofredor que se manteve em um deserto, enquanto Deus permanecia em silêncio.

Algumas peças nesta história são importantes para entendermos que nem sempre a teologia humana será capaz de atender a demanda de uma vida sofrida.
Jó tinha, primeiramente, de vencer a proposta de sua mulher. Ele havia perdido tudo, estava sem nada, sua saúde debilitada. Sua mulher torna-se um instrumento na mão de Satanás. Ela propõe ao seu marido; “amaldiçoa este teu Deus e morre”. Sua expressão denota a verdadeira intenção do coração de muitos que servem a Deus apenas pelo que têm.

Ora, se Jó já não possuia coisa alguma, não restava nada a fazer, senão amaldiçoar a Deus e acabar com a própria vida. Seus amigos também são agentes importantes para compreendermos a teologia da retribuição. Os amigos de Jó acreditavam na teologia da barganha, assim como o próprio Jó. Não seria possível um justo padecer com tanto sofrimento. Provavelmente, para a concepção teológica vigente naquele tempo e nos tempos atuais também, Jó havia pecado em algum momento de sua vida. Era mister então que ele retornasse a Deus para receber tudo de volta. Percebe-se que mais uma vez a teologia não resolve sempre os problemas humanos. Ela aponta a solução na atitude de retorno e confissão de pecados diante de Deus para receber todos os benefícios de volta. Jó é impulsionado a relacionar-se com Deus pelos motivos errados, não pelo amor e pela graça, mas pelos bens, pelo que Deus poderia oferecer.

Deus fica em silêncio diante de Jó. É neste momento que toda imagem do Senhor é reconstruída no coração daquele homem. Seus padrões morais e éticos não poderiam determinar o que Deus devia fazer. Jó ainda se achava no direito de culpar a Deus pelo seu sofrimento. Teria ele direito através de sua própria justiça fazer isto? No momento em que Deus fala, surge a pergunta; Quem é Jó? Por considerar-se um homem integro, seria capaz de determinar como Deus deveria agir? Deus estabelece um diálogo e afirma que o mundo não seguia a mesma lógica que ele e seus amigos tentaram criar.

A imagem de Deus passa a ser trabalhada em Jó e o reconhecimento também daquilo que ele mesmo era. Era preciso entender sua fragilidade, que seus conhecimentos eram limitados para compreender o mistério de Deus. Jó rende-se à soberania de Deus que ultrapassa toda perspectiva humana. Nesse reconhecimento e rendição, ele encontra satisfação. Ele se entrega ao amor de Deus,lança-se através de sua fé na vontade de seu Criador. Seus sofrimentos não são justificados, mas são aceitos como ação do Senhor para que fosse trabalhado como homem e moldado naquilo que ainda precisava ser ajustado, seu conceito errôneo acerca de Deus. Jó torna-se capaz de compreender o amor na situação mais adversa, porque seu relacionamento com o Pai começa a ultrapassar as barreiras da pretensão e da vontade humana.