segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Benção Franciscana

Que Deus o abençoe com desconforto,

Diante de respostas fáceis, meias verdades e relacionamentos superficiais,

Para que você possa viver profundamente em seu coração.

Que Deus o abençoe com ira,

Contra a injustiça, opressão e exploração do povo,

Para que você possa trabalhar em prol da justiça, liberdade e paz.

Que Deus o abençoe com lágrimas,

Para derramar pelos que sofrem de dor,

Rejeição, fome e guerra,

Para que você possa estender sua mão para confortá-los

E transformar sua dor em alegria.

E que Deus o abençoe com inocência suficiente,

Para acreditar que você pode fazer a diferença neste mundo,

Para que você possa fazer o que outros dizem que não pode ser feito.



Amém.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Nossas relações

Ultimamente tenho me preocupado muito com o tipo de relação que estabeleço com alguém. Em um mundo indiferente e altamente egocêntrico é perigoso criar expectativas sobre outra pessoa. Converso com amigos e percebo o quanto nos frustramos por tentarmos estabelecer um elo com outros. Chegamos à conclusão que o melhor é não criar expectativas, é melhor não esperar nada, pelo menos daqueles que não se interessam por conhecer de verdade quem você é. Somos julgados o tempo todo e também julgamos. O problema não é julgar alguém, mas deixar de tirar a prova real do julgamento. Temos de reaprender a antiga regra da matemática. Tire a prova real, mas tire-a de quem você está julgando para saber com quem está lidando. Aproxime-se e conheça o outro antes de criar preconceitos.
Percebo que algumas pessoas não se preocupam mais com o que podem gerar no outro quando, impulsionadas por uma necessidade interna, criam elos sem fundamento no amor. Os desejos temporários são a base que se utiliza para aproximar-se de alguém. Quando se frustra o desejo, frustra-se a relação, entra o julgamento e a rejeição ao ser diferente. Estamos preparados para o diferente? Ou condenamos o próximo por não fazer parte do nosso paradigma de pessoa que pode conviver e falar conosco?
As relações humanas são complexas, mas parte de seus problemas poderia ser amenizada, se a base que as impulsionasse fosse o amor incondicional. Isto é difícil, porém não é impossível. Dar um espaço para que o próximo manifeste-se como pessoa na nossa vida é um bom início para praticar o amor, mesmo que ele seja diferente. Se nossos laços sempre forem norteados pelos interesses pessoais, então estaremos fadados ao fracasso, à decepção, às expectativas frustradas, ao abandono e por que não à depressão, a famosa doença do século.
Amor de fato tornou-se um substantivo abstrato na vida de muitos. Cabe a cada um acabar com a indiferença, transformando em infinitivo o amor, seja amar o nosso desejo. Reaprendamos a antiga regra do português para conjugar o verbo amar, não com palavras somente, mas com gestos e atitudes.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008





JÓ: Paradigma da Espiritualidade Cristã - trabalho do seminário

Fiz um trabalho sobre um texto mês passado, gostaria de compartilhar o que escrevi.

No texto o autor trabalha os aspectos relacionados ao que nos motiva a manutenção de um relacionamento com Deus. Para o autor, no livro de Jó, Satanás tem um motivo muito maior do que constatar a falta de integridade e a infidelidade de Jó. Segundo ele, Satanás pretende desarticular as reais motivações de Jó em seu relacionamento com Deus. Para comprovar isto, o Diabo estabelece uma aposta com Deus. Se Deus retirasse tudo o que Jó possuía, desde a sua riqueza até sua saúde e família, certamente o amaldiçoaria. Era preciso provar que Jó estava servindo ao Senhor apenas pelas motivações da riqueza, da família e da saúde e não pelo que Deus realmente era. Ele o estava servindo pelo que o Criador podia oferecer e, se isso fosse provado, certamente, como fora apontado como o homem modelo de Deus no mundo, não haveria na terra quem servisse a Deus por aquilo que ele era.

O Senhor permite que tudo seja retirado de Jó, desde sua riqueza até a sua família. Jó vê-se em um turbilhão de problemas, algo inimaginável acabara de suceder. Um homem temente a Deus estava sofrendo. Motivo? Não existia, ele não sabia do desafio proposto por Satanás, portanto, não havia uma razão lógica para que Deus permitisse tamanho sofrimento. Para que a dor então? É no centro do drama vivido por Jó que percebemos o real significado da espiritualidade. Jó depara-se com algo que nunca antes havia experimentado. O sofrimento gerou um esvaziamento na vida do homem sofredor que se manteve em um deserto, enquanto Deus permanecia em silêncio.

Algumas peças nesta história são importantes para entendermos que nem sempre a teologia humana será capaz de atender a demanda de uma vida sofrida.
Jó tinha, primeiramente, de vencer a proposta de sua mulher. Ele havia perdido tudo, estava sem nada, sua saúde debilitada. Sua mulher torna-se um instrumento na mão de Satanás. Ela propõe ao seu marido; “amaldiçoa este teu Deus e morre”. Sua expressão denota a verdadeira intenção do coração de muitos que servem a Deus apenas pelo que têm.

Ora, se Jó já não possuia coisa alguma, não restava nada a fazer, senão amaldiçoar a Deus e acabar com a própria vida. Seus amigos também são agentes importantes para compreendermos a teologia da retribuição. Os amigos de Jó acreditavam na teologia da barganha, assim como o próprio Jó. Não seria possível um justo padecer com tanto sofrimento. Provavelmente, para a concepção teológica vigente naquele tempo e nos tempos atuais também, Jó havia pecado em algum momento de sua vida. Era mister então que ele retornasse a Deus para receber tudo de volta. Percebe-se que mais uma vez a teologia não resolve sempre os problemas humanos. Ela aponta a solução na atitude de retorno e confissão de pecados diante de Deus para receber todos os benefícios de volta. Jó é impulsionado a relacionar-se com Deus pelos motivos errados, não pelo amor e pela graça, mas pelos bens, pelo que Deus poderia oferecer.

Deus fica em silêncio diante de Jó. É neste momento que toda imagem do Senhor é reconstruída no coração daquele homem. Seus padrões morais e éticos não poderiam determinar o que Deus devia fazer. Jó ainda se achava no direito de culpar a Deus pelo seu sofrimento. Teria ele direito através de sua própria justiça fazer isto? No momento em que Deus fala, surge a pergunta; Quem é Jó? Por considerar-se um homem integro, seria capaz de determinar como Deus deveria agir? Deus estabelece um diálogo e afirma que o mundo não seguia a mesma lógica que ele e seus amigos tentaram criar.

A imagem de Deus passa a ser trabalhada em Jó e o reconhecimento também daquilo que ele mesmo era. Era preciso entender sua fragilidade, que seus conhecimentos eram limitados para compreender o mistério de Deus. Jó rende-se à soberania de Deus que ultrapassa toda perspectiva humana. Nesse reconhecimento e rendição, ele encontra satisfação. Ele se entrega ao amor de Deus,lança-se através de sua fé na vontade de seu Criador. Seus sofrimentos não são justificados, mas são aceitos como ação do Senhor para que fosse trabalhado como homem e moldado naquilo que ainda precisava ser ajustado, seu conceito errôneo acerca de Deus. Jó torna-se capaz de compreender o amor na situação mais adversa, porque seu relacionamento com o Pai começa a ultrapassar as barreiras da pretensão e da vontade humana.